“O piano é a minha própria história de vida”

História

A trajetória de Marcelo Viana da Silva como um dos mais importantes afinadores e restauradores de piano em atividade hoje no país teve início em uma pequena oficina, localizada nos fundos de uma casa no bairro do Embaré, em Santos (SP). Em pouco tempo, Soléo tornou-se o afinador técnico número 1 de Guiomar Novaes a maior pianista brasileira do século e também o preferido de outras duas concertistas não menos famosas, Madalena Tagliaferro e Marlene Akel.

Marcelo começou a freqüentar a oficina da rua Benjamin Constant, no Embaré, em 1979, quando contava 12 anos de idade. Primeiro por curiosidade; depois, cumprindo tarefas para o avô que lhe rendiam alguns trocados e, finalmente, assumindo convicto o ofício de afinador e restaurador do instrumento de cordas mais complexo que existe. A sua universidade foram oito pianos com toda a sorte de estragos.

Luiz Soléo chamou o neto e lhe disse: Se você quiser ser um profissonal de verdade, a sua tarefa daqui por diante será reformar esses pianos. Eles serão a tua escola. O adolescente Marcelo pôs mãos à obra. O avô era um artesão concentrado, firme e casmurro. Soléo implicava especialmente com cordas que vibravam sem as articularidades específicas de ajuste um detalhe que nem todos os profissionais do ramo conseguem detectar. Nesse caso, Marcelo era obrigado a refazer os anéis das cordas, até que atingissem o ajuste perfeito.

O velho Soléo também dedicava atenção minuciosa à raspagem e ao polimento das teclas. Ensinou ao neto uma técnica apurada de clareamento e exigia dele a obtenção de um brilho preciso, de acordo com o material do teclado que estivesse em reforma: marfim ou celulóide. Entre outras marcas, deixou como novo um Feerd Thurmer, datado de 1915. Tomei muita bronca de meu avô por causa desse piano alemão relembra.

Aos 22 anos, obteve o aval de Luiz Soléo. Conseguira, afinal, dominar os segredos da engrenagem e da sonoridade do piano, o tipo de conhecimento que não se aprende em nenhuma escola, até porque não existem escolas especializadas no país para formar técnicos destinados a essa atividade.

Foi na oficina de meu avô que adquiri a visão panorâmica do piano. Desde a desmontagem do mecanismo, passando pela revisão dos eixos do martelo, da troca de cordas e de cravelhas, até a restauração do móvel e a afinação. É uma experiência que no Brasil poucos profissionais têm. O operário de uma fábrica, por exemplo, lida com o piano em uma etapa específica da linha de montagem, durante o processo de fabricação. Por isso, só consegue se especializar em algum aspecto do instrumento diz. Junto com o aval, Marcelo ganhou também um conselho do velho Luiz Soléo: Me tenha sempre como referência, mas faça o seu próprio nome. E não lhe indicou um cliente sequer. Ao deixar a oficina, Marcelo Viana da Silva foi à luta.

Aos 22 anos, obteve o aval de Luiz Soléo. Conseguira, afinal, dominar os segredos da engrenagem e da sonoridade do piano, o tipo de conhecimento que não se aprende em nenhuma escola, até porque não existem escolas especializadas no país para formar técnicos destinados a essa atividade.

Foi na oficina de meu avô que adquiri a visão panorâmica do piano. Desde a desmontagem do mecanismo, passando pela revisão dos eixos do martelo, da troca de cordas e de cravelhas, até a restauração do móvel e a afinação. É uma experiência que no Brasil poucos profissionais têm. O operário de uma fábrica, por exemplo, lida com o piano em uma etapa específica da linha de montagem, durante o processo de fabricação. Por isso, só consegue se especializar em algum aspecto do instrumento diz. Junto com o aval, Marcelo ganhou também um conselho do velho Luiz Soléo: Me tenha sempre como referência, mas faça o seu próprio nome. E não lhe indicou um cliente sequer. Ao deixar a oficina, Marcelo Viana da Silva foi à luta.

Na trajetória, acabou por conhecer o maior rival do avô, o também afinador e restaurador José Falascha, antigo proprietário da Casa Carlos aGomes, que funcionou durante anos na Rua 7 de Setembro, no bairro Vila Nova, na região do Mercado Municipal de Santos. Se Marcelo deve a Soléo o aprendizado, a Falascha atribui o encontro definitivo com a arte de afinar e de restaurar pianos.

Em 1996, Marcelo abriu uma oficina na Vila Mathias e em 2002 a transferiu para Rua Carlos Gomes, 104, no bairro do Campo Grande e em 2006 inaugurou seu novo local. A Soléo mantém um estoque médio de 25 pianos/mês.

Dentre algumas restaurações e reformas feitas por Marcelo e sua equipe constam a do piano alemão Steinway&Sons, de propriedade do Teatro Municipal de Santos, e a de um Bechstein, datado de 1925, que pertence ao Clube XV.

A oficina trabalha com todos os tipos de pianos, importados ou nacionais, e possui, inclusive, uma máquina francesa, de 1805, usada para fabricar bordão uma corda com revestimento de cobre, responsável pela sonoridade mais grave do piano.

Marcelo Viana da Silva é um artífice. Como manda a tradição, ele pretende manter o negócio em família. Além da mulher, Claudia Magali Pereira da Silva, que administra a empresa, a filha Leticia já está trabalhando com os pais, o que deve acorrer futuramente com a caçula Nicole, nascida em 2003. Para sucedê-lo na arte da restauração e da afinação de pianos, Marcelo já começou a preparar o filho Renan. Não encaro o meu ofício só como trabalho, como um modo de ganhar a vida. Vejo o meu ofício como arte, pois o piano é a minha própria história de vida diz com orgulho.